domingo, 5 de setembro de 2010

spleen


Não tem sido fácil. Eu vivo procurando imagens que ilustrem essa angústia, mas a sensação mais próxima de uma síntese dessa dor é a impressão de que eu vivo caindo num abismo; é um desespero físico, seja lá o que isso significa, eu até sinto um pouco de náusea, confundo sintomas físicos muito sutis com tontura, tremores - e alguns são efeito colateral dos medicamentos que eu tenho tomado desde os dezenove anos. Goya, talvez Picasso com aquelas cabeças quadradas, mas Schiele e Lucien Freud sem dúvida, e Bacon. Nesses três últimos eu sempre percebo as bocas túrgidas, ereção, desespero, sociopatia, o personagem está sempre a beira do cadafalso, pedindo para ser aniquilado, sob pena de acabar com tudo, violentamente dando fim à sua dor ordenando o mundo à sua imagem, caoticamente cortando, esquartejando, rearrumando tudo.

Existe esse Pathos, porquê essa dor em mim não corresponde exclusivamente à carência dos meus recursos emocionais, à omissão familiar, ao desterro afetivo a que todo menino é condenado quando se concebe distinto. Os remédios não funcionam tanto, mas a abstinência me joga num território mais abjeto que aquele de que saí antes de tomá-los. é um vício, uma máquina se retroalimentando, mas sou inclinado a achar que sim, eu estava pior antes de tomar esses comprimidos todos. Sou levado a crer que antes dessas drogas nada miraculosas eu sentia esse cair no abismo como natural, cotidiano, inevitável. Não há dia em que eu não experimente essa sensação de algo podre se apossando de mim, crescendo nas extremidades, mas com os remédios eu sinto que isso me é de algum modo estranho, controlável, indesejável, estranho enfim. Diagnosticar é isso, perceber que a dor engendrada e alimentada é alheia a minha vontade, é uma visita indesejada que se hospeda demasiadamente em mim.

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