terça-feira, 7 de setembro de 2010

drogadição


eu tomo exatamente 11(onze) pílulas por dia. esse número naturalmente é flutuante, pode aumentar em função da minha necessidade, ou diminuir caso a indústria farmacêutica se compadeça de mim.
dois dos comprimidos são compostos, portanto eu chego a ingerir 13 drogas diariamente. é uma equação fácil: para um problema específico eu tomo as mesmas drogas duas vezes ao dia. para a outra mazela... também, são apenas 6 tipos de drogas, repetidas, duas delas conjugadas em duas pílulas brancas, farinhentas e chatas de engolir sem água.

eu já ouvi todo tipo de discurso contra os anti-depressivos e afins. eu mesmo tenho uma espécie de culpa muito religiosa que eventualmente sugere uma vozinha aguda e inconveniente "se você fôsse forte aguentava tudo isso a seco" e "no século XVIII você se mataria ou faria sangrias"

um dia hei de me livrar dessas drogas ou da culpa. nunca pretendi transcender a necessidade de água quente para o banho, como tenho necessitado diariamente de computador nos últimos pelo menos 8 anos. daqui algumas gerações eu tenho certeza que outras mazelas substituirão as minhas(se essas não permanecerem) e eu tenho certeza de que essa culpa será assimilada e nenhum estoicismo será invocado.

a cultura não é necessariamente um conjunto daquilo que foi criado pelo homem, mas antes um inventário daquilo que a humanidade descobriu e aperfeiçoou em diferentes níveis de sofisticação e tempo. eu não preciso de uma cama, ou de água quente, mas a dor fica mais suportável com esses recursos que outrora amenidades hoje são condição mínima para uma existência menos sórdida. os remédios me permitem uma estabilidade maior inclusive para construir um discurso que possa refutá-los um dia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário